Translate

24/09/14

A farmacologia como coadjuvante da terapia comportamental



Existem muitos medicamentos, ervas medicinais e suplementos alimentares que podem ajudar o cão a restaurar um equilíbrio saudável. Não resolvem os problemas por si só. A melhor maneira de os entender é como sendo um primeiro passo em casos particularmente severos.

Quando o cão de encontra de forma permanente num estado de ânimo que não aceita modificações comportamentais ou quando os donos não se co-responsabilizam com essas terapias de modificação do comportamento necessárias para solucionar o problema, a farmacologia pode ter alguma utilidade. É particularmente eficaz em patologias relacionadas com o medo porque parece que muitos cães medrosos estão geneticamente predispostos a este comportamento e, inclusivamente, quando não é assim, o medo é uma sensação e tem um historial tão presente que é muito resistente à mudança. A dessensibilização sistemática com frequência exige mais tempo do que estão dispostos a dedicar a maioria dos donos.

Em muitos casos estas substâncias oferecem uma forma de reduzir a quantidade de trabalho necessário para que se produza uma mudança positiva. Queríamos realçar que estas substâncias não solucionam problemas de comportamento, simplesmente são um primeiro passo. Nesse sentido, são um coadjuvante importante e uma ajuda nos processos de readestramento e modificação comportamental que o terapeuta dispõe.

De seguida vamos resumir brevemente alguns desses produtos.

Clomicalm (Cloridrato de clomipramina)

Este medicamento é particularmente útil para os transtornos de ansiedade por separação e para a ansiedade em geral. A clomipramina é um anti-depressivo tricíclico.

A clomipramina bloqueia a reabsorção de serotonina e noradrenalina por parte dos neurónios aumentando assim os níveis destes aminoácidos no cérebro. Os níveis altos de serotonina diminuem o medo, o stress e a ansiedade nos cães. A clomipramina metaboliza-se no corpo em dimetil-clomipramina.

O aumento dos níveis de noradrenalina faz com que o cão esteja mais receptivo aos processos de modificação de comportamento. Este medicamento, de facto, favorece a capacidade de concentração do cão, pelo que a aprendizagem será facilitada. Este produto também se usa em muitos transtornos de ansiedade em humanos.

O Clomicalm é um medicamento de prescrição médica e pode não ser indicado para todos os cães.

Elavil (Amitriptilina)

O Elavil é um antidepressivo tricíclico. Os antidepressivos tricíclicos inibem a reabsorção pelos neurónios da noradrenalina e da serotonina, daí as propriedades antidepressivas. Devido aos seus efeitos secundários, este medicamento está contra-indicado em cães com historial de dificuldades em urinar, ou arritmias cardíacas severas e incontroladas.

O Elavil é muito útil em transtornos de ansiedade e medo. Também pode ser eficaz em casos de agressividade. Um cão em tratamento com este produto deve ser vigiado e ter-se bastante cuidado.

Se o comportamento é baseado no reforço, a falta de ansiedade pode eliminar a inibição do cão e a conduta agressiva poderá piorar em vez de melhorar. Os primeiros efeitos do medicamento aparecem entre as 2-6 semanas depois do início do tratamento.

Prozac (Fluoxetina)

A Fluoxetina é um inibidor específico de reabsorção serotonergica muito mais forte que a Clomipramina ou a Amitriptilina.

A fluoxetina inibe somente a reabsorção de serotonina, não como a clomipramina ou a amitriptilina, que também impedem a reabsorção da noradrenalina. A fluoxetina pode demorar um mês ou mais antes de produzir efeito. Parece muito eficaz no tratamento da agressividade caracterizada por impulsividade severa, a agressividade incontrolada e inadequada, e a agressividade entre cães.

Num estudo realizado por Dodman, Donnelly, Shuster, Mertens, Rand e Miczek em 1996, foi demonstrado que a fluoxetina era particularmente eficaz na agressividade por complexo de controlo contra o dono.

ProQuiet (Suplemento L-Triptofano)

ProQuiet é um suplemento de triptofano que aumenta os níveis de serotonina no cérebro.

Este produto está somente indicado para cães com mais de 16 semanas de idade e não se deve administrar mais de sete dias com uma interrupção de dois dias. Pode ser especialmente eficaz nas primeiras fases de um programa de tratamento. Este produto está à venda nas clínicas veterinárias.

5-HTP (5-Hidroxitriptofano)

O 5-http é um metabolito que é criado pela transformação do triptofano em serotonina. Quer dizer que se parece mais com serotonina que o triptofano. O triptofano também tem um factor limitador, enquanto que o 5-HTP não.

O 5-HTP não deverá ser usado juntamente com outros medicamentos que afectam a actividade da serotonina, a menos que o veterinário tenha em conta o efeito combinado. A dose é experimental. Se a dose for alta, o cão inicialmente pode sentir náuseas. Mas se a dose for demasiado baixa não fará efeito. A dose recomendada para o tratamento da agressividade é de 2mg/kg, administrada de forma oral duas vezes ao dia.

Glutamina (suplemento aminoácido)

A glutamina é um aminoácido não essencial que pode esgotar-se quando um cão sofre de stress. O cérebro usa a glutamina para formar glutamato e GABA que são os neurotransmissores que regulam o equilíbrio entre a excitação e a inibição da actividade nervosa. Sabe-se que este suplemento gera tranquilidade. Possivelmente, será bom adicionar ao suplemento um complexo de vitamina B para que a glutamina seja mais activa.

Só se deve administrar glutamina por prescrição do veterinário em cães diabéticos, cães que sofram de cancro ou enfermidade hepática avançada, e cães que apresentem patologias neurológicas como apoplexias e epilepsias.

Resumo

Clomicalm e Elavil previnem a destruição da serotonina. ProQuiet e 5-HTP adicionam mais serotonina ao cérebro. Funcionam de formas diferentes para atingir o mesmo fim, aumentar o nível de serotonina no cérebro. A glutamina ajuda o cérebro a sintetizar as substâncias químicas que equilibram a excitação e a inibição.

Nota final

É importante que os terapeutas comportamentais e adestradores não ultrapassem a linha de exercer medicina veterinária sem estarem habilitados para isso. Este é um trabalho de conjunto entre o terapeuta comportamental e o veterinário que deve ser analisado em conjunto caso a caso para que possam oferecer um serviço com qualidade e de acordo com as expectativas do dono. Mas também é verdade que alguns veterinários estão dispostos a fazê-lo e outros não. Temos que saber viver com essa situação e procurar soluções que minorem esse obstáculo.


Sílvio Pereira

22/09/14

A intervenção nutricional na resolução de problemas de comportamento



A nutrição pode ter efeitos importantes sobre o comportamento do cão. Se o proprietário está a alimentar o cão com comida de baixa qualidade, é provável que este sofra de nutrição inadequada, que pode provocar stress.

Os subprodutos ou derivados de animais e os derivados de cereais já são bastantes prejudiciais, mas alguns conservantes químicos, corantes e substâncias químicas para manter a humidade da comida podem tornar-se problemas adicionais.

Muitos cães reagem de forma negativa a estes ingredientes e isso pode-se manifestar em problemas de comportamento. Em muitos casos as comidas de baixa qualidade incluem grandes quantidades de milho, que diminui o nível de serotonina no cérebro por ser um produto pobre em triptofano e rico em tiroxina (antagonista da serotonina) Lindsey 2000.

O triptofano e a tiroxina

As dietas de má qualidade incluem ingredientes conhecidos por causar sensibilidade, intolerância ou alergias num grande número de cães.

“O consumo alimentar dos aminoácidos triptofano e tiroxina, e de outros aminoácidos neutros maiores, influencia de forma significativa a biossíntese e a concentração de um grupo de neurotransmissores – serotonina, noradrenalina e dopamina – que se conhecem em conjunto com a denominação de monoácidos (Strong 1999)”

A noradrenalina é responsável pelos altos níveis de excitação, que levam à agressividade. A dopamina pela atenção e reactividade. A serotonina é pelo controlo do humor, pelos níveis de excitabilidade e pela sensibilidade à dor. Julga-se que a insuficiência de serotonina no cérebro é um dos elementos chave responsáveis pela impulsividade, pela agressividade, pelo comportamento antissocial, pela desordem hiperactiva, pela ansiedade e pelas dificuldades de aprendizagem (Strong 1999). Os cães com baixos níveis de serotonina no cérebro são hipersensíveis à dor, hiperreactivos, emocionais e agressivos.

Os aminoácidos individuais, que são os percursores dos monoácidos, competem pela reabsorção destes produtos do sangue que vai para o cérebro. Se não há harmonia ou se produz uma insuficiência, cria-se então um desequilíbrio nos processos químicos do cérebro. O triptofano de origem alimentar transforma-se em serotonina no cérebro. Assim como outros neurotransmissores, os percussores devem viajar para o cérebro através da barreira sangue-cérebro (Lindsay 2000). Na barreira sangue-cérebro, estes percursores competem por entrar no cérebro devido à limitação de vias para esse transporte. O triptofano de origem alimentar é o percursor da serotonina, enquanto que a tiroxina é o percursor da noradrenalina e da dopamina. A tiroxina de origem alimentar actua como uma espécie de agente anti-triptofano e, como tal, um agente anti-serotonina.

Como consequência disso, é muito importante assegurar-se de que se evita um excesso de tiroxina e se promove a administração de uma quantidade substancial de triptofano. Em geral, as fontes de proteína têm mais triptofano em relação à tiroxina que as fontes de hidratos de carbono mas, em muitos casos, uma mudança de uma dieta baixa em proteínas melhora de forma significativa problemas de conduta porque as dietas ricas em proteínas tendem a reduzir os níveis de triptofano no cérebro (Lindsey 2000). De facto, as dietas ricas em carbohidratos podem aumentar a quantidade de triptofano existente para a síntese de serotonina, inclusivamente quando o alimento tem ela própria quantidades modestas de triptofano.

Então, porque é que uma dieta rica em hidratos de carbono aumenta os níveis de serotonina no cérebro se há menos triptofano na sua composição? A forma natural do triptofano representa uma pequena proporção dos aminoácidos que constituem a proteína (entre 1% e 1,6%). Os demais aminoácidos presentes em maior quantidade e mais prevalentes competem com o triptofano por um número limitado de canais de transporte que atravessam a barreira sangue-cérebro.

O problema é que com frequência nesta competição o triptofano é eliminado e o cérebro pode esgotar as suas reservas deste aminoácido (necessárias para uma produção estável de serotonina). As dietas que contêm uma quantidade proporcionalmente mais alta de hidratos de carbono do que de proteínas (cerca de 5-6 partes de hidratos de carbono para uma de proteína) estimulam a secreção de insulina. A produção de insulina desvia os aminoácidos presentes em maior quantidade para o tecido muscular. Devido à sua estrutura molecular única, que o diferencia de outros aminoácidos, o triptofano não é tão afectado pela secreção de insulina como os outros aminoácidos.

O resultado é que a proporção de triptofano no plasma aumenta consideravelmente, obtendo vantagem sobre os outros aminoácidos que competem para atravessar a barreira sangue-cérebro, e a produção de serotonina no cérebro aumenta significativamente (Lindsay 2000).

Recentemente, um estudo de DeNapoli, Dodman, Shuster, Rand e Gross publicado no jornal “Of the American Veterinary Medical Association (JAVMA)”, intitulado Os efeitos da proteína e suplementos de triptofano na dieta sobre a agressividade por dominância (actual agressividade por complexo de controlo), agressividade territorial e a hiperactividade, demonstrou que uma redução de proteína tende a reduzir a agressividade de forma significativa, mas o mesmo não acontece com a hiperatividade. A redução de proteína acompanhada com suplementos de triptofano reduz a agressividade de forma mais relevante.

Val Strong sugere que a porção de alimento rica em hidratos de carbono deveria ser servida depois da porção rica em proteína para assim obter melhores resultados.

“Apesar disso, a taxa de triptofano só pode ser incrementada de forma significativa no cérebro pelos hidratos de carbono, se estes são ingeridos duas a três horas depois da ingestão de proteína. A insulina é segregada como resposta à ingestão de hidratos de carbono para regular os níveis de glucose no plasma. A insulina também desvia os aminoácidos neutros presentes em maiores quantidades nos tecidos esqueléticos periféricos onde se envolvem as vias energéticas do sistema imunitário” (Rugaas 1997)

A vitamina B6

Também, a vitamina B6 é um co-factor na síntese do triptofano na serotonina, de modo que deveria ter-se em consideração numa intervenção nutricional. Para manter a proteína adequada, uma óptima fonte deste aminoácido é o tofu. Tem um nível relativamente alto de triptofano e baixo de tiroxina.


Sílvio Pereira    

12/09/14

A importância do exercício no comportamento canino



“Um cão cansado é um cão bem comportado!”

Isto tem sido dito de forma intuitiva ao longo dos anos, mas existe uma base fisiológica que confirma esta afirmação.

A investigação mostra que a estimulação física exerce uma influência terapêutica significativa na fisiologia do cão (Lindsey 2000). O exercício físico estimula a produção de serotonina, noradrenalina e certas endorfinas (hormonas do prazer e bem-estar), o que explica porque é que a estimulação física tema a capacidade de alterar o humor de forma tão significativa. O exercício estimula a libertação de noradrenalina e de várias hormonas do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenocortical (HPA), como são os casos das hormonas betaendorfinas, a hormona adrenocorticotrófica e o cortisol (Lindsey 2000). O exercício breve e explosivo pode exercer uma influência stressante negativo sobre o corpo enquanto que a estimulação física mais moderada e de maior duração produz os efeitos benéficos mencionados anteriormente.

Numa prova de força com cães os investigadores chegaram à conclusão que o exercício agudo tende a gerar angustia nos animais e a reduzir a quantidade de noradrenalina, provocando, em alguns casos, indefesa aprendida (decisão de não se defender). Concluiram também que o exercício regular favorece a actividade noradrenégica e aumenta as quantidades de noradrenalina  armazenadas em diferentes partes do cérebro e de serotonina na amígdala central (Lindsey 2000). Parece então existir uma base fisiológica que apoia o uso da estimulação física regular em caso de cães que sofrem de stress, ansiedade, reactividade ou agressividade. Lindsey descreve o seu uso da seguinte maneira:

“A descoberta que o exercício favorece a actividade serotonérgica é importante para o uso do exercício no controlo de problemas comportamentais relacionados com o stress. Dentro da neuroeconomia do cérebro, a serotonina joga um importante papel moderador sobre o stress e o controlo de comportamentos impulsivos indesejáveis. Dey e seus colegas (1992) apresentaram um prometedor estudo que fundamenta que a relação funcional entre a produção de serotonina e o exercício ao demonstrar uma alteração significativa da actividade serotonérgica central em cobaias expostas a um exercício regular. Chegou-se à conclusão que o exercício regular gerava um incremento sustentável e marcado do metabolismo da serotonina em várias áreas do cérebro, incluído o córtex cerebral. Os autores sugerem que o córtex é provavelmente o lugar do sistema nervoso que medeia os exercícios benéficos do exercício sobre a depressão. Os estudos mencionados anteriormente corroboram a hipótese de que o exercício, especialmente o exercício diário e a longo prazo, tem em potência efeitos benéficos sobre a neuroeconomia do cão…

Genericamente, a resposta ao exercício dos subtipos receptores da serotonina foi muito similar aos efeitos produzidos por antidepressivos tricíclicos” (Lindsey 2000)

Brevemente iremos publicar um artigo sobre os melhores exercícios físicos a realizar com e por um cão, e os exercícios adequados em função do cão que temos em casa.

05/09/14

Será que os cães sentem culpa?

Quantas vezes ouvimos os donos de cães dizer coisas como: “o meu cão sabe quando faz algo de mal, vem ter comigo com cara de culpa”, será que realmente isso é verdade? Os nossos cães na realidade têm sentimentos de culpa?

Foi para esclarecer este mito que a Psicóloga e investigadora da Barnard College de Nova Iorque Alexandra Horowitz dedicou alguma da sua investigação.

Ao criar condições em que o proprietário estava mal informado sobre do seu cão havia cometido alguma infração, ela consegui descobrir as origens da “cara de culpa” dos cães.

Horowitz mostrou que a tendência humana em atribuir culpa ao olhar de um cão não se deve ao facto de ele ser realmente culpado. Em vez disso, as pessoas vêm esse sentimento quando simplesmente acreditam que o cão fez algo que não deveria ter feito, mesmo se ele for inocente.

Durante os estudo, os proprietários de 14 cães foram convidados a deixarem uma sala após ordenarem aos animais para não comerem um determinado alimento. Enquanto o dono estava ausente, Horowitz deu a alguns dos cães esse alimento proibido antes de pedir aos proprietários que voltassem para a sala. Em certos casos, eles foram informados que o animal havia comido o alimento, noutros receberam a informação de que o cão se havia comportado de forma adequada. Porém, isso nem sempre correspondia à verdadeira situação.

Ou seja, o “olhar de culpa” dos cães pouco ou nada tem a ver com o facto de serem realmente culpados. Na verdade, os que foram obedientes e não comeram, mas que haviam sido repreendidos pelos seus (desinformados) donos, pareciam mais “culpados” do que aqueles que tinham, de facto, comido o petisco.

A cara de culpa funciona como uma resposta ao comportamento do dono, e não necessariamente um indicativo de qualquer julgamento dos próprios erros caninos.

Este estudo lançou uma nova luz sobre o antropomorfismo – tendência natural do ser humano em comparar o comportamento animal com o comportamento humano e se existe alguma semelhança superficial entre eles. Isso inclui a atribuição de emoções de ordem superior como a culpa, ou o remorso, para o animal, mesmo que este não esteja com esses sentimentos, segundo Horowitz.

O estudo é uma demonstração da necessidade de projectos experimentais cuidadosos se quisermos compreender a relação cão-humano e não apenas afirmar os nossos preconceitos naturais sobre o comportamento animal.


Sílvio Pereira   

02/09/14

A Ética Profissional do Adestrador Canino

Numa altura em que estão a aparecer no mercado cada vez mais adestradores caninos (e o Centro Canino Vale de Lobos tem algum mérito nisso uma vez que todos os anos forma diversos profissionais nesta área), convém lembrar que esta, como todas as profissões, deve reger-se por um código deontológico que nos deve conduzir ao longo de todo o nosso percurso profissional.

Como ainda não existe nenhuma associação deste grupo de profissionais que possa elaborar um código ético para a profissão, e para prevenir abusos de várias naturezas, cujos únicos atingidos serão não só as pessoas e os seus cães que, de boa-fé, confiam nos serviços do profissional que escolhem, mas também os colegas que, mesmo trabalhando honestamente, vêm a sua actividade profissional manchada e desacreditada por pessoas com poucos escrúpulos e que não olham a meios para atingir os seus fins, decidimos transcrever um excerto da lição que é dada durante os Cursos de Adestramento ministrados pelo Dep. de Formação do CCVL precisamente dedicada à ética na profissão de Adestrador e Terapeuta Comportamental Canino:

“1.4.3. Ética Profissional

A partir do momento em que uma pessoa é qualificada como Adestrador e começa a cobrar os seus serviços, está a actuar como um Profissional. Como em todas as profissões, nesta também deve existir um código deontológico e uma ética profissional. Por não estar regulamentada, esta profissão presta-se a todo o tipo de oportunistas, moralmente mal formados e charlatães.

Em todas as profissões encontramos pessoas mais ou menos qualificadas e que se intitulam de “profissionais”. A diferença entre o bom profissional e o charlatão radica na qualidade dos seus trabalhos, finalizados com êxito, dentro do respeito à ética da sua profissão.

Por ser uma profissão relativamente nova, faz com que a fiscalização do trabalho, por parte do cliente, seja quase nula. A transparência no processo de adestramento, de modo a evitar abusos e enganos, está sujeita à moralidade do profissional.

Se o adestrador possui um conceito claro do que é a moral, só aceitará um trabalho que seja capaz de realizar e que esteja dentro do que aprendeu na sua formação, rejeitará as tarefas para as quais não se sinta capacitado e não terá problemas em mostrar as limitações reais do animal e as do trabalho que vai desenvolver assim como as possibilidades de êxito.

Outro pecado capital é a crítica maldosa a outro colega de profissão. Quando se procede desta forma ninguém fica a ganhar, perdem, isso sim, todos os adestradores que consideram esta tarefa suficientemente digna para investir nela toda a sua vida.

Finalmente, o que o cliente espera de nós é que o seu cão se converta num amigo obediente, amável e educado, num guardião e defensor da sua família, companheiro de vigilância e patrulha, participante em salvamentos, olhos dos invisuais, consolo e ajuda na invalidez e velhice, etc.”


Com este pequeno artigo esperamos ter dado um contributo importante para que os adestradores portugueses sejam mais cautelosos na abordagem que fazem à sua profissão, mas também ajudar a que o dono consiga, com mais facilidade, distinguir o bom profissional, em todos os sentidos, daquele que aproveita esta actividade para atingir objectivos que nada têm a ver nobre arte de ensinar animais.


Sílvio Pereira