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12/02/09

A Agressividade Canina I

Devido à importância e seriedade que este tema tem, iniciamos agora uma série de artigos relacionados com esta área do Comportamento Canino que tem levantado tantas controvérsias, erros e inexactidões quando é abordado. Debruce-mo-nos então, sem preconceitos, sobre a "Agressividade Canina".

Parte 1

Compreender a agressividade canina

Actualmente, a agressividade é o maior e mais complexo dos problemas de comportamento canino, principalmente devido à maneira como é publicitado e também devido ao alcance social que o mesmo atinge. Contudo, a informação que é veiculada pelos média deve ser filtrada e interpretada com precaução, uma vez que existem muitos factores implicados no fenómeno que podem confundir e desvirtualizar a realidade. Por exemplo, segundo um estudo realizado em 2000 só 9,3% das vítimas de mordidas de cães são observados em hospitais. Outro factor importante é a raça, já que algumas são mais mediáticas que outras e consequentemente aparecem com mais frequência na imprensa e, na maioria dos casos, não é solicitado a um especialista em comportamento canino uma análise à situação nem uma pesquisa ao historial dos cães agressores.

Outra estatística diz-nos que, nos Estados Unidos, as mordidas de cães, por ano, variam entre as 500.000 e os 4,7 milhões.

De todos os ataques registados, parece que os mais frequentes são os que ocorrem em casa da própria vítima e contra pessoas conhecidas da família ou amigos. Dentro desta estatística são mais frequentes as mordidas a crianças. Segundo Sacks (um dos investigadores que estudaram este fenómeno) é 1,5 vezes mais provável que uma criança seja mordida e 3 vezes mais provável que necessite de tratamento. Além disso correm maior risco os meninos entre os 5 e os 9 anos mais que as meninas e encontrando-se as lesões na cara, pescoço e cabeça com maior frequência.

Segundo outros estudos parece que as mordidas ocorrem frequentemente sem provocação por parte da vítima. Mas também é certo que a falta de conhecimento da linguagem canina pode levar-nos a estabelecer interacções com o cão sem nos aperceber dos sinais prévios de ataque. Sobre isto, podemos encontrar como causas dos vários ataques, as seguintes:

• Falta de Socialização do cão
• Comportamento da pessoa interpretada pelo cão como provocatória
• Falha na interpretação por parte do cão ou do humano acerca das intenções de cada um.

Segundo os investigadores Podberscek e Serpell (1997) os proprietários de cães muito agressivos tendem a permanecer num estado contínuo de excitabilidade e tensão podendo, como consequência, serem emocionalmente instáveis pelo qual têm tendência a aplicar castigos indiscriminadamente e sem coerência, podendo assim, aumentar as condutas agressivas já existentes. Chegam a castigar o cão com admoestações verbais fortes e violência física, sem pensarem que poderá ser mais adequado um treino em obediência.

Como tem sido sublinhado nos vários artigos que temos publicado, o comportamento é o resultado da interacção complexa entre genes e meio ambiente. Sendo assim, segundo a população estudada e os dados disponíveis, podemos encontrar estatísticas que dão como mais frequentes os ataques de fêmeas de tamanho pequeno dentro da própria família, de machos castrados com menos de 1 ano de idade, de cães entre 1 e 3 anos ou de cães com determinadas características fenótipas que se assemelham a raças muito massacradas pelos meios de comunicação.

Como realçámos no artigo dedicado ao imprinting e socialização, estes dois processos de aprendizagem têm um papel fulcral na prevenção deste problema social, assim como a capacidade de certas raças para interpretar os sinais dos seus congéneres e serem capazes assim, de resolverem os conflitos mediante comunicações intra-especificas de apaziguamento e não com lutas crónicas e intermináveis. E este é outro dos efeitos da domesticação a que se somam a antropomorfização levada a cabo pelos proprietários e a incapacidade de interpretar a linguagem dos seus cães.

Reconhecer um comportamento agressivo

Do ponto de vista psicológico, a agressividade é a activação de uma resposta ante um estímulo de stress adverso (negativo) para recuperar o controlo e/ou evitar a perca do mesmo. Quando falamos em stress referimo-nos a qualquer força imposta ao cão que requer ou obriga a mudanças ou adaptação.

Na maioria das vezes os donos não têm consciência que os seus cães estão sempre a aprender. Nem tão pouco têm a noção de que muitas vezes estão a reforçar condutas agressivas. O nosso cão aprende todos os dias nos encontros com outros cães e pessoas, dentro de casa, nos jogos e interacções connosco e muito mais aprende se permitimos que o cão saia só e possa deambular pelas ruas.

Reforçamos involuntariamente a agressividade se num desses encontros dizemos ao nosso cão: “calma boby, tranquilo” ou simplesmente o acariciamos em vez de ordenarmos que se sente ou deite. Recompensamo-lo igualmente quando o olhamos com ar de aprovação da acção.
Se o resultado da agressão é a tomada de controlo da situação por parte do cão e assim resolve o conflito, este comportamento converte-se num êxito para ele e voltará a usá-la quando se lhe apresente o momento adequado numa situação se não igual, pelo menos comparável.

Muitas vezes os donos de cães não reconhecem que o seu pode ser agressivo, até à altura em que este morda e provoque graves danos. Apesar disso existem outros sinais ou condutas que podem ser entendidas por agressivas, como comportamentos de evitação, rosnadelas, posturas desafiantes e intenção de morder.

Para que o especialista em comportamento canino possa compreender o grau e tipo de agressividade do cão que está a analisar, seria necessário que o dono descrevesse fielmente a ou as situações em que o cão tem esse comportamento, coisa que na maioria das vezes não sucede devido à tendência ao antropomorfismo do dono. Como é muito difícil filmar todas as situações, é de extrema importância que o dono relate fielmente tudo o que se passou e o que despoletou a agressão e sobre os momentos anteriores e posteriores à mesma, os cães a as pessoas participantes.

No próximo artigo vamos falar dos vários tipos de agressão canina.

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